24/12/2021

História de Natal!

O ano é 1964, 65 ou 66. Minha avó morava na rua José de Alencar, a poucos metros do Largo dos Campeões, principal acesso ao antigo estádio do Grêmio o Olímpico Monumental. A residência era um velho casarão dos anos 20, de paredes grossas e grandes arcos emoldurando a varanda da entrada principal.

Os verões na casa da vó eram especiais, pois, representavam o grande momento de reencontrar primos que moravam longe. A casa ficava cheia nas festas de final de ano. Não existiam internet, nem celular. Tampouco TV à cabo. Tempos do Brasil rural e das grandes distâncias que deveriam ser percorridas para matar saudades. E naquele casarão dos meus avós, as saudades tinham data certa para acabar. Era no verão, começando com as festas natalinas.

A rua José de Alencar é uma rua muito grande que iniciava na beira do rio Guaíba, percorrendo o bairro Menino Deus e terminando na Avenida Carlos Barbosa, num traçado que passava em frente ao Largo dos Campeões, majestoso sítio de entrada do orgulhoso estádio Olímpico do Grêmio que, naqueles anos, completava dez anos da inauguração.  Eu e meu irmão costumávamos guardar carros no pátio da casa da vó, em dias de futebol e frequentamos o estádio desde tenra idade.

Era vizinho “de muro” na nossa avó um importante e famoso jogador do Grêmio. Um zagueiro grande e forte. Jogava com tamanha elegância que chamou atenção até do Pelé e foi parar na seleção brasileira. Sua família era grande e cheia de crianças que faziam algazarra nas noites de Natal.

         Naquele Natal, num determinado momento as mães e tias deram um jeito de levar as crianças para brincar na calçada em frente à casa. O objetivo era estratégico: tirar as crianças da sala para preparar a “chegada” do Papai Noel e seu saco de brinquedos. A noite já começava a cair, escurecendo a rua. As crianças gritando e correndo, animadíssimas, o céu estrelado e alguns foguetes já estourando em vários pontos, anunciando a proximidade da meia-noite, quando todos erguem taças e se abraçam. Eis que, de repente, um Papai Noel começa a sair, agachado e se escondendo, pelo portão da garagem do vizinho ilustre da minha avó. Ao vê-lo a criançada correu todo em sua direção. Maior e mais rápido, cheguei primeiro e abracei as pernas do Papai Noel que segurou-se no muro para não cair, e perguntava a ele, aos gritos, pela minha bicicleta, presente que eu havia pedido na carta que minhas avós enviaram ao “bom velhinho”.

    O Papai Noel, suado como um operário, com a barba branca arriada no pescoço, e cara de poucos amigos respondeu também aos gritos: - Vai à merda guri. Não me enche o saco, porra! Enquanto afastava as crianças aos empurrões, jogou o saco vermelho e vazio por cima do muro, resmungando palavrões. O episódio foi minha experiência trágica com o tal Papai Noel.



 

Um comentário:

Vani Medina disse...

Fiquei indignada com este estupido papai Noel... isto não se faz com crianças inocentes....