22/07/2013

CHRISTIÂNIA - COPENHAGEN - DINAMARCA

Além dos canais que ligam a cidade, da descendência viking e da maneira absolutamente perfeita como tudo acontece em Copenhagen, a grande curiosidade é a Cidade Livre de Christiania, uma comunidade independente e autogestionada encravada numa extensão da capital mais loira de toda a Europa.

A antiga área abandonada de bases militares de Badsmandsstraedes Kaserne, localizada nas proximidades de Christianshavn, um subúrbio da capital dinamarquesa, foi ocupada em 1971 por alguns milhares de hippies, anarquistas, artistas e músicos, como uma forma de protesto ao governo da Dinamarca, que não conseguia (e havia muita antipatia popular por causa disto) promover uma reforma no sistema habitacional.

Este quadro de dificuldades somado ao clima de protesto que movia o mundo naqueles dias, possibilitou uma grande ocupação naquele vazio urbano surgido repentinamente. Estes estranhos ocupantes da área tinham como ideal comum a rejeição a aos valores morais, às convenções sociais e, principalmente, às ideias capitalistas que infestaram a Europa no contexto pós segunda guerra mundial. Mais tarde, todo o bairro ocupado foi batizado de Christiania e seus primeiros habitantes também queriam um espaço verde e aberto, para que pudessem criar seus filhos longe do crescente tumulto de Copenhagen. O espírito da comunidade de Christiania foi logo permeado por valores socialistas e do movimento hippie, num contraste com a ideia original de ocupar a área como um mecanismo de defesa e refúgio.


Providências judiciais efetuadas pelos órgãos estatais para a retirada dos habitantes de Christiania - considerados "indesejáveis e perturbadores da paz e da ordem" pelos outros moradores de Christianshavn e Copenhagen, fracassaram devido ao enorme número de pessoas e à extensão da área ocupada solução encontrada foi passar a tratar Christiania como uma “experiência social“, até que o uso e o destino das terras fosse finalmente decidido. Em contrapartida, os ocupantes consentiram em arcar com as despesas de água e energia elétrica.

Os atuais moradores de Christiania referem-se a si próprios como moradores de uma cidade livre, administrativamente independentes das autoridades nacionais. Moradores ainda mais formais tratam Christiania como uma comunidade autônoma.


Christiania oferece uma infinidade de atrações artísticas e intensa vida cultural. A arquitetura original e pitoresca, bem como a planta da comunidade são as expressões e marcas de um estilo de vida alternativo. Todos os tipos de serviços públicos passaram a ser introduzidos e oferecidos àquela população ao longo dos anos, desde a coleta de lixo e limpeza das ruas, até serviços de correio e escola. Não há contratos de aluguéis nem propriedades de imóveis, de modo que cada um mantém uma relação muito pessoal com a casa em que habita. A solução de conflitos e problemas comunitários é feita democraticamente com base no princípio do consenso geral, de modo que cada indivíduo possui responsabilidade na manutenção da ordem no âmbito da comunidade. 

Não existe polícia, portanto reuniões e encontros de caráter diverso são organizados para a tomada de decisões em favor da comunidade e de intervenções quando se fizer necessário, podendo um membro receber como “penalidade máxima“ a exclusão permanente da comunidade. Não obstante, parte dos habitantes não pertencem integralmente à comunidade, e muitos trabalham inclusive além das fronteiras de Christiania, pagando impostos regularmente ao governo dinamarquês – e, ao mesmo tempo, parte à administração da cidade livre.

Carros e as chamadas "drogas pesadas" são proibidos em Christiania. De outro lado, o consumo de drogas tidas como "leves" passou a ser tolerado dentro dos limites da comunidade há cerca de trinta anos pelo governo dinamarquês. 

Entretanto, em 16 de Março de 2003, as autoridades evacuaram a rua Puscher Street, que se tornou conhecida como ponto de venda de maconha – uma atração turística, e prenderam mais de 50 negociadores da erva. Mas não sem consequências futuras, como se constataria mais tarde: sem a “grande sensação“, o fluxo de visitantes e turistas dentro de Christiania quase cessou, e com isso também a entrada de dinheiro na comunidade, trazendo problemas financeiros à cidade livre, que ainda hoje persistem.

Nenhum comentário: