02/04/2013

João Gilberto e o RH (*)


Publicado em www.boraver.com (27/11/2012): http://migre.me/dXgPY

As empresas multinacionais e as grandes empresas brasileiras estão cada vez mais preocupadas com seu time de colaboradores (funcionário é uma palavra proibida entre o pessoal do RH).

O acesso a capital abundante e financiamento barato diminuem as barreiras de entrada e são cada vez mais as pessoas que fazem a diferença no resultado da empresa.


Como consequência disso seus departamentos de Recursos Humanos (o antigo DP, mais um termo proibidaço) vem ganhando força.  Com cada vez mais gente e recursos, os RH se dedicam incessantemente a identificar, contratar e reter "talentos", identificar os "gaps" dos seus profissionais, avaliar constantemente seu quadro de pessoas e montar uma "linha de sucessão". É importante identificar os "high potentials", de forma a treiná-los, motivá-los e remunerá-los adequadamente.


Até pouco tempo atrás um Gerente Jurídico, por exemplo, precisava conhecer do assunto e entregar no prazo pareceres, contratos e outros documentos.  Hoje isso não basta: é preciso ter espírito de liderança, saber trabalhar em equipe, pensar "fora da caixa", fazer mais com menos, ter "executive presence", possuir "people skills", poder de negociação etc.  É de se esperar que o contrato que você precisa não chegue no prazo...


Entregar é importante, é fundamental ter comprometimento, mas tudo isso sem esquecer as não menos importantes "competências" descritas acima, o colaborador precisa ser uma espécie de Roger Federer, que joga 5 sets e termina o jogo com cara de quem acabou de sair do banho.


A avaliação constante é imprescindível, normalmente em 360 graus, e muitas empresas começam a adotar uma reunião de gestores para discutir forças e "gaps" dos talentos subordinados a cada um.


Nesta reunião é comum o Diretor industrial emitir comentários sobre o pobre coitado do gerente jurídico, apesar do mesmo não ser subordinado a ele.  É preciso atender bem não apenas seu chefe, mas seus pares e "clientes internos".


Segue abaixo uma discussão sobre a performance do grande mestre João Gilberto pela diretoria:

- Bom, vamos agora ao João Gilberto. Gostaria de começar pelas forças e depois falar dos "gaps".
- Sem dúvida, o João é um profissional competente no que faz, conhece do assunto e entrega seu trabalho com qualidade.

- Pois é, é um profissional senior, experiente, muito atento aos detalhes.

- Passa senioridade no vestir, está sempre de terno, é discreto.

Porém...

- Bom, a primeira coisa que me incomoda no João é a dificuldade que ele tem em trabalhar em equipe, é sempre aquela coisa "um banquinho, um violão", não percebo ele interagindo muito com outros colegas.

- Além do mais, percebo no João uma certa resistência a mudanças, esse negócio de "só danço samba, só danço samba" ficou ultrapassado, o gestor moderno precisa dançar conforme a música, ter flexibilidade.
- Concordo, em alguns casos percebo que ele não promove a diversidade, um valor essencial da empresa, me preocupa essa atitude de "quem não gosta de samba, bom sujeito não é".
- Verdade, não queremos ter uma equipe homogênea, a diversidade e a aceitação de diferentes pontos de vista é fundamental.
- Vejo nele uma certa resistência em relação a "feedbacks" negativos, essa coisa de mandar a plateia calar a boca e falar que "vaia de bêbado não vale" não leva a nada.
- Devemos entender o motivo da vaia para promover uma constante melhora em nossos processos.

Alguém tem mais alguma coisa a dizer?


- Creio que o cancelamento do show em São Paulo em cima da hora foi uma atitude inaceitável.

- Pois é, é uma pena, depois as pessoas reclamam que não têm oportunidade.  Quando têm, jogam fora.
- Esses pontos que levantamos não são de hoje, há anos damos o mesmo feedback e ele não muda.
- Concordo, é uma pena demitir um profissional como o João, que já contribuiu tanto para essa organização, mas não creio que exista outra opção...

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