20/06/2013

Ocupar as ruas. Já!


Imediatamente lembrei de uma tarde num dia de semana qualquer lá pelo fim dos anos 70.  O grupo caminhava pelas ruas do centro de Porto Alegre com bandeiras e cartazes. De longe se ouvia baixinho “vai acabar, vai acabar... a ditadura militar...” e  “anis – tia! anis – tia! ampla, geral e irres-tri-ta”. Logo as vozes estavam fortes e ecoavam nas esquinas. Muitas pessoas saiam de dentro de prédios e das lojas e somavam-se ao grupo que ia crescendo.  Na subida da Borges o confronto com a polícia. Feridos, presos, tudo o que sabemos hoje. Na semana seguinte lá estávamos de novo. A ditadura durou mais alguns anos, mas... caiu. E foram os jovens que a derrubaram. A anistia chegou, e foram os jovens cabeludos que a conquistaram. Os presos foram soltos e os exilados retornaram.
 
No início dos 90, os jovens saíram às ruas novamente. Agora era para retirar do poder o farsante que, eleito Presidente, traíra a confiança e a esperança de toda uma gente sofrida que não aguentava mais os desmandos verde-oliva e caíra na armadilha do super-herói. Desta vez, os barbudos de cabelos compridos foram substituídos por uma legião de caras-pintadas que não tinha medo.

Estes filmes passaram pela minha cabeça rapidamente ao ouvir meus filhos no jantar e pude entender o que estava acontecendo. Ou melhor, o que está para acontecer. Não se trata de derrubar ninguém ou pegar em armas. Isto que é um levante, sem dúvida, mas um levante de quem não aguenta mais ser desrespeitado. É um levante que pretende conquistar a cidadania. Para quem não sabe, cidadania é uma condição abstrata, de difícil compreensão para quem a obtém por doação ou consignação. Cidadania legitima precisa ser conquistada. Cincoenta anos atrás, o jovem Che Guevara imortalizara a frase “El derecho a vivir no se mendiga, se toma”. Estes jovens pretendem tomar a cidadania usurpada. É isto. O método revolucionário é pacífico, teimoso e conhecido: Ocupar as ruas. Já! Sua comunicação é veloz, eficaz. Eles dominam armas poderosas da comunicação digital e trazem no coração a pureza da juventude.  

“Vou na marcha” - disse minha filha de 17 anos. Ao argumentar do perigo das balas de borracha e preguntar se ela não tinha medo ela me fez lembrar que lá nos anos 70, na minha vez de ter 17 dezessete anos, eu não também não tinha medo. Vou junto. Ocupar as ruas. Já!

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